Duas horas da madrugada. A forte luz da cozinha fere meus
olhos. Uma garrafa de vinho pela metade e uma taça cheia na mesa à minha
frente. Esse silêncio me assusta. Eu deveria estar feliz, certo? Quando fecho
meus olhos posso te ver, ajoelhado e dizendo coisas maravilhosas, e aquela
caixinha preta em suas mãos. Agora está aqui. Pequena. Aveludada. Como algo tão
pequeno pode significar algo tão grande? Encarando-a, bebo mais um gole. Não
estou bêbada o suficiente. Talvez nunca esteja. Toda mulher espera por esse
dia, sonha e faz milhões de planos. Eu fiz. É absolutamente normal que esse dia
chegue eventualmente na vida de um casal. É os felizes para sempre. Porque eu
não estava me sentindo feliz? Os homens têm a fama de nunca querer se casar,
então porque eles que fazem o pedido? Eles esperam até estarem prontos e
simplesmente pegam a mulher de surpresa, esperando logo que ela diga o grande
“sim”. Não se preocupam se ela pode estar pronta ou não para dar um grande
passo como esse. Os homens, e algumas mulheres também, acreditam que todas elas
já nasceram prontas para isso. A questão é que algumas delas não são assim, sabe
talvez atualmente esse não seja o objetivo de vida da mulher moderna. Pelo
menos não é o meu objetivo de vida. Não que eu tenha descartado completamente
essa possibilidade, apenas não me sinto confortável com a ideia de que eu
precise me casar para provar que realmente amo alguém. Como se minha palavra
mão fosse o bastante, eu preciso de um certificado para que acreditem em mim. A
garrafa está quase vazia e eu ainda não tenho uma resposta. Se dizer sim prova
que eu o amo, então dizer não prova o contrário? É assim que funciona? Mundo
injusto. Pedido injusto. Colocar uma relação inteira nas mãos de uma só pessoa.
Talvez seja esse o meu problema. Talvez eu não queira colocar a minha
felicidade nas mãos de uma só pessoa.

Nenhum comentário:
Postar um comentário