Quando
eu era pequena, costumava te esperar. Me arrumava toda. Colocava meu melhor
vestido, os sapatos novos, uma fita no cabelo e esperava. Eu não saía para
brincar com as outras garotas, para não me sujar. Era uma boa garota. E quando
você não aparecia, eu era a melhor em inventar desculpas por você.
Todo
aniversário eu sentava ao lado do telefone e mais uma vez esperava. Ficava ali
o dia todo. Assistia aos desenhos, comia, e terminava o dia dormindo junto ao
telefone. Ele nunca tocou. Mas eu ainda tinha um estoque de justificativas que
você poderia usar.
E era
natal de novo. Época de escrever o que você queria ganhar e deixar na árvore. A
regra era que a criança que se comportasse durante o ano todo tinha direito a
um presente do famoso Papai Noel. Eu não me preocupava com isso, afinal sempre
fora uma menina educada e comportada. Sempre tirava notas boas na escola,
respeitava todos à minha volta, dormia cedo, não falava palavrões, ajudava em
casa e não reclamava. Era evidente que eu tinha direito a um presente. E eu já
sabia o que eu queria. O que eu pedia todos os anos.
“Querido Papai Noel, eu fui uma boa garota
esse ano. Tirei nota máxima em matemática, fiz duas novas amigas e arrumei o
meu quarto todos os dias. Eu esperei esse ano, mas ele não veio. Então de
presente para o ano que vem, eu quero meu pai. Prometo me comportar e aumentar
minha nota de ciências. E você promete deixar ele me visitar?”
Eu
queria mudar minha carta esse ano. Mas a verdade é que não estou pronta para deixar
de te esperar.
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